Big techs: mais perguntas do que respostas no cenário digital

Muito se discute atualmente sobre a posição das chamadas Big Techs, as  grandes empresas de tecnologia, em um mundo cada vez mais pautado e envolto pelas mídias digitais. Companhias como Amazon e Google cresceram a níveis tão estratosféricos que torna-se quase impossível não pensar (e repensar) sobre os conceitos de monopólio, igualdade e concorrência.

A lista de discussão é extensa. Há o problema da regulamentação das atividades dessas empresas em cada país e entre países. Há a questão da crescente utilização de expedientes automatizados e redução da força de trabalho humana. Existe ainda o compartilhamento quase que fraternal dos dados pessoais de consumidores ao redor do globo, criando-se uma mailing list invasiva e de grande valor financeiro no mundo corporativo.

A resposta a todas essas questões e o rumo que tomam têm sobre nós, cidadãos comuns e usuários dos serviços oferecidos pelas grandes techs, um impacto muito maior do que objetivamente se pensa. Não se trata apenas de leis e impostos ou de exploração e publicidade.

A atuação das grandes companhias de tecnologia ressoa no próprio desenvolvimento da sociedade. Quanto mais presentes – com suas ditas práticas arrojadas e em sintonia com um público ativo e dinâmico – mais elas exercitam a sua influência sobre o modo como conduzimos a nossa vida de um modo geral.

Nas palavras do escritor americano Nicholas Carr, a propósito do trabalho do filósofo canadense Marshall McLuhan, “no final das contas, o conteúdo trazido pelas mídias é menos importante do que a própria mídia em si, em sua influência sobre como pensamos e agimos. Como uma janela para o mundo e para nós mesmos, uma mídia popular molda o que e como enxergamos – e se a usarmos o bastante, teremos nos transformado como indivíduos e como sociedade.”

Assim, o movimento dos governos no sentido de tributar empresas e regulamentar suas atividades em determinado local tem um resultado direto na sociedade envolvida. Veja-se, por exemplo, a questão do Uber nos Estados brasileiros e o quanto ela diz a respeito de como a nossa comunidade enxerga o conceito de locomoção, o direito de trânsito no meio urbano, a existência de pessoas autorizadas a profissionalmente transportar outras de um lugar ao outro, dentre outros.

Como ainda engatinhamos na era digital, as perguntas nesse momento certamente superam as respostas que se possa ter. Mas se colocarmos estas interrogações no contexto a que de fato pertencem, os diálogos acabam por tornar-se mais produtivos e eficientes.

Vocês Veem a Tecnologia Como Uma Ferramenta. Nós não.

Marc Prensky é um pensador, palestrante, escritor e consultor norte-americano, internacionalmente reconhecido como líder na área da educação. Ao longo de anos de trabalho, vem coletando alguns pensamentos de estudantes que ele batizou como ‘nativos digitais’ – termo hoje amplamente usado para descrever aquelas pessoas que “nasceram ou cresceram durante a era da tecnologia digital, e têm familiaridade com computadores e internet desde os primeiros anos de vida”.

Uma das frases a que ele dá destaque é justamente a que embasa o título deste artigo. Mais precisamente, disse um aluno: “Vocês veem a tecnologia como uma ferramenta. Nós a vemos como uma fundação – ela está na base de tudo o que a gente faz.”

Então, nota-se, há uma discrepância na própria definição daquilo que internet e tecnologia representam no mundo de hoje. Isso inevitavelmente cria uma lacuna na comunicação entre as gerações que atualmente vivem no nosso planeta: pais e filhos, professores e estudantes, chefes e jovens empregados.

E quando lançamo-nos o desafio de fazer uma passagem pro futuro de forma mais eficiente e proveitosa, tentando estreitar o nível de interação entre pessoas vindas de épocas diferentes, há muito mais perguntas do que respostas.

A primeira das questões a ser levada em conta, na prática, é a contextualização socioeconômica de uma determinada comunidade ou grupo de pessoas. Em outras palavras, nem todo mundo está exposto aos mesmos patamares de cultura e tecnologia, e o modo como diferentes dinâmicas sociais são tratadas deve necessariamente ser – bem, digamos – diferente.

O nativo digital norte-americano não é o mesmo daquele nascido na Índia. O do Norte do Brasil difere daquele vindo de Santa Catarina. Mesmo dentro de uma única cidade, inclusive porque a era digital é ainda tão recente, as competências tecnológicas de alguns adultos podem ser infinitamente maiores do que as de um adolescente.

Na linha do pensamento de Henry Jenkins, professor e pesquisador na área da Comunicação, “nós, como professores, devemos incluir o mundo exterior com o qual as crianças estão familiarizadas e usá-lo dentro das salas de aula”.

Troquemos as ‘salas de aula’ por ‘ambientes de trabalho’ e ‘círculos familiares’, e teremos aí um bom cenário na busca por um mundo mais integrado.

Que venham as discussões!