Quem São os Meus Heróis?

Tina é uma menina de vinte e poucos anos, encantada com o mundo e com as pessoas, que costuma se aproximar de quem ela acha mais cool do que ela própria – gente que se veste sem muita produção, que conversa sobre cinema alternativo e é engajada em assuntos da política nacional. Há na Tina um ímpeto de observar, imitar e aprender, e talvez por isso mesmo seja tão afeita a novas amizades e conversas.

Sempre que ela volta pra casa, onde mora com os avós, mãe e três irmãos mais novos, se arremessa no sofá com um lanche rápido nas mãos e joga conversa fora com quem quer que passe pela sala. Três casos e algumas risadas depois, Tina já está pronta pra subir pro quarto e se distrair com o celular por algumas horas.

Dia desses no entanto, ao chegar no andar de cima e atirar a bolsa na cama, se deu conta de que o telefone celular havia ficado na mochila de uma amiga. Pensou em ir à casa da Andreia, claro, mas não valia a pena dirigir por 1 hora e meia àquela altura da noite, já que elas iriam se encontrar logo cedo na manhã seguinte.

Bateu nela uma sensação enorme de não saber o que fazer. O computador da casa é pra uso da família toda, privacidade praticamente nenhuma. O livro que ela vinha lendo estava no celular. As mensagens trocadas com todos os amigos, as conversas ainda pendentes, estavam no celular. Os links abertos em blogs que ela queria ler melhor mais tarde: no celular. As fotos e vídeos que ela iria editar naquela semana. Celular.

Daí Tina se lembrou de uma história que o avô contava, de como os pais dele não deixavam que ele fosse se dar com os meninos e meninas do Stanislau, o bairro ao lado. Aliás, era no Stanislau que morava a avó da Tina, e foi lá mesmo naquela área que os dois se conheceram e começaram a namorar, há mais de 4 décadas. Mas tudo aconteceu às escondidas, não havia meios de convencer os pais daquela época a deixar os filhos se misturarem com os de outras áreas ao redor.

A molecada só queria estar junto. Conversar e passar tempo juntos. Muitas vezes sem fazer nada especial, mas juntos.

E não é essa espontânea singeleza que agora a Tina considera heroica?

– – –

Na era da tecnologia, as nossas habilidades são inúmeras. Nós desenvolvemos o poder de interagir, produzir e apreender informações em alta velocidade, tudo ao mesmo tempo e agora.

Enquanto isso, no contraponto, a gente perdeu a calma do que é simples. O que é simples ficou bobo, o que é pouco complexo não é bom o suficiente.

Quais são as prioridades que nos movem, afinal de contas?